Três poesias

Venha varrer as ruínas
Espalhar a poeira das estrelas mortas
Venha destruir as portas
Sem fechaduras
As mãos sem ataduras
Que não conseguem um adeus ensaiar.
Não deixe o amanhã aferroar os passos
Desfaça os laços
O hoje, o agora e o talvez
Salve-me, pelo menos uma vez
Cortando o último suspiro infeliz
Desse tolo aprendiz.
Quis viver, sem viver
Poderão olhos ver outra realidade
Poderão pés caminhar em outra cidade
Poderão mãos apalpar miragem
Ansiando a imagem
Que não existe?
Venha. Não tenha medo.
Eu não vivi, fui apenas sombra.
Grite, não há segredo.
Não há nada que te assombra
Mais do que olhos que não te vêem.
Eu apenas ouvi tua voz, então venha.
Horas mortas voam sobre o céu tristonho
Desfazendo-se em segundos sobre o abismo e o nada
Roendo as engrenagens de um velho hotel.
Tolas horas, desesperado olhar de um sonho
Asfixiando a fútil e descarnada madrugada
Entabulando conversas com o solitário céu.
Alguém providenciará a pousada para as horas?
Uma temporada em um sanatório poderá curá-la?
Devemos deixar o seu corpo em gás no velho cemitério estelar?
Os quartos e lençóis não estão arrumados.
Não houve tempo para prozac, beijos e arranhões.
Repousa o tempo, no tempo em repouso do novo lar.
Esvaziando o sol
Se eu beber a escuridão que habita em mim
Se eu comer o espaço que te acende
Desaparecerei nas pesadas horas
Que nem mesmo você compreende.
Se eu beber a escuridão que habita em mim
Se eu comer o espaço que te acende
Desaparecerei nas pesadas horas
Que nem mesmo você compreende.
Se eu esvaziar o sol
Diminuindo a vogal do seu nome
Quebrarei o corpo vida
E a vida em corpo sobrenome.
As lentes não vão enxergar
Olheiras que não se olham, olheira insone!
Deixe-me descansar esta noite em ti
Deixe-me morrer antes que me abandone.